Eu acordei com vontade de Não.
Não importa o que, só é Não.
E também não me importa se eles não entendem.
E coisa minha, cabeça minha, vontade minha. Não.
Porque meu dia está azul, e dias azuis me deixam de mau humor.
Eu acordo com vontade, e não é por que não fiz
É porque meus dias coloridos têm vontades.
De não, de ir, de fazer, de falar, de ser, de ter, de estar, de não ter vontade de nada.
Homem não consegue entender.
Hoje eu acordei com vontade dele.
De algo que acontece e morre.
Hoje eu acordei com vontade de viver um segredo.
De criar algo próprio, compartilhado, um mundo novo.
Só meu e de todo mundo.
Hoje meu dia tem vontade de riso. Hoje eu acordei com vontade Vegas.
Há dois jovens nesta tarde que se entregam, um ao outro e a si mesmos.
Face a face, eles respiram devagar, mas pesadamente. E é nesse ar pesado que se encontram, observando, instigando.
É como um feitiço. Paralisados, não podem fugir do desejo, não podem fugir.
Ele a olha: imóvel, sentindo-o cada vez mais perto. Os segundos parecem minutos, inacabáveis segundos de aproximação. Suspira e espera... rendendo-se, e olhando-o.
O olha, aproximando-se, com plena consciência do ato, do sonho, encostando docemente seus lábios nos dela, sentindo e aproveitando todo seu sabor.
Aqueles lábios tão desenhados tomam para si os doces lábios da jovem, que continua sem reação, deixando-se domar por ele, por todo seu poder e imponência.
Encostada em uma parede, ela sente o prazer daquele gosto agridoce que tanto quis, daquele quase beijo que ele a oferece, e deixa-se ser usada.
Ele brinca com ela, mordisca seus lábios, suspira em seu ouvido, fecha os olhos e continua brincado,e brincando, até gentilmente, beijar-lhe do modo mais doce, mais suave, mais apaixonante.
Sente o macio dos lábios, o doce do beijo, o sabor do desejo, do sonho, da realidade, pois tudo é um, e eles não são mais nada além daquele momento, porque nada mais importa, nada mais conta, quem são, o que fazem, o que esperam, o que amam... nada importa. Eles tem o Desejo, tem um ao outro agora, e mais nada.
As mãos que ele apertava entre as suas vão soltando-se aos poucos, pois ele perde as forças, e deixa-as livres para o prazer.
Ela já não pensa em mais nada. Passa gentil e levemente sua mão delicada no pescoço do rapaz, chegando calmamente a sua nuca, acariciando os belos cabelos negros e puxando-o, delicadamente, para si.
Ele, por sua vez, enlaça-a, passando seu braço por traz da cintura fina, trazendo-a para si, sem fuga, sem saída, sem selvageria.
Ambos ficam presos um ao outro, implorando pela mesma coisa, com os mesmos desejos...
Horas são segundos e realidade é sonho.
Acorda, que o mundo lá fora já deixou de acontecer
Vem logo, que a hora é agora
E o dia passa lá fora. Vem...
Que a noite acabou de ir embora, e o dia começa a sonhar.
Que a noite não demora a voltar.
Me abraça bem forte que eu tô do seu lado
Me beija de novo e me deixa sonhar
Que a realidade é nossa, poesia e prosa Que o mundo lá fora pode até acabar.
Deita do meu lado, deixa o mundo acontecer.
Quando nada mais existe
