quarta-feira, dezembro 30

Oswaldo Montenegro





Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que o homem que eu amo seja pra sempre amado
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A uma mulher inundada de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesma
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.

terça-feira, dezembro 29



E eu cheguei a conhecer você, durante esse tempo...
               Nós vimos vários dias chegarem e partirem...
    E depois de todo o tempo que nós compartilhamos...
       Todos segredos contados...
Você vai sempre dizer "Eu Te Amo" ?
           E se você não me der nada,
nada mais do que isso,
  Eu já terei mais do que o suficiente.

Pelo resto da minha vida
      Pelo resto dos meus sonhos.
       Quando tudo ainda se completa...
Deixe-me fazer um pedido antes de cairmos no sono ?

    Deixe-me acordar com você do meu lado...
                                                Sempre...

ATO DE CONTRIÇÂO


Eu pecador, me confesso ao mundo
na consciência de um relâmpago
que dura apenas um segundo
todas as culpas, mesmo as que não tive...

Peço clemência a todos os meus sonhos
talvez tenham sido ousados
talvez além da conta, bisonhos
o fato é que morreram todos, antes de mim...

Esta é a culpa que devolvo ao mundo
não mereço ônus pelo que me foi roubado:
a crença e a esperança no amor
pelas quais tanto tenho lutado...

Por isso revogo meu ato, antes impensado
não há contrição em mim
declaro-me inocente, ignorante
qualquer rótulo que me queiram dar
pois meu único pecado foi amar...

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segunda-feira, dezembro 28


Ele a olhava. A meia-luz do fim de tarde fazia com que seus olhos ficassem com um brilho castanho-dourado, enquanto tudo em volta assumia tons de cinza. Era impossível pra ela dizer no que ele pensava. Ambos queriam não pensar. Ela se focava em olhar o rosto. Todo o desenho, cada traçado, o tom rosa pálido da boca perfeitamente desenhada, o sorriso que parece iluminar tudo ao seu redor. As sombras que o seu próprio cabelo fazia no rosto dele. Os olhos dele percorriam o rosto dela, todas as luzes e belezas que ela irradiava. E ambos olhavam os jeitos e trejeitos que tanto amavam, um do outro. Os jeitos e a luz e o cheiro e o gosto e o som e o mundo parece deixar de existir em um segundo infinito de silêncio e olhos nos olhos.


..A gente pode parar o tempo e ficar assim pra sempre ?

quinta-feira, dezembro 10

Cores e Doces '








Ela vivia sozinha. Havia se acostumado assim. Pessoas passavam por sua perfeita prisão de cristal, algumas até ficavam algum tempo, mas nenhuma conseguia toca-la atravez da parede, e, em algum momento, elas iam embora. Por vontade própria, ou não, apenas iam embora. E a prisão continuava gelada, e ela continuava apenas olhando a vida atravez das paredes.
Até que ele apareceu.
E ficou ali, parado, observando, assim como muitos outros fizeram. Mas com ele ali ela quis se levantar. Dar um passo. Chegar mais perto. Ele olhava, como se não houve uma imensa prisão ali. E ela sentia, pelo olhar dele, que era livre.
Foi então que ele estendeu a mão, passou pela prisão, e tocou em sua face. O calor que ela sentiu foi único. Ao olhar para ele ela notou que sua prisão fria não estava mais ali. Simplesmente não estava mais ali. Com ele ali ela era livre. Com ele ali era estava viva.
- Como você consegue esse brilho? Ele perguntou.
-Que brilho? Ela disse
-Esse que tem no olhar. Que ilumina toda a tua face e torna único teu sorriso.
-Sorriso... ?
-Sim. Teu doce e lindo sorriso, que me trouxe até você.
Foi quando ela notou que estava sorrindo. Já haviam lhe arrancado muitos sorrisos antes, mas nenhum era como aquele. Sincero. Ela olhou pra ele, cada detalhe, cada milímetro, cada pequeno movimento. E ali ela se apaixonou por ele, e por tudo que ele era. Foi quando ele a pegou no colo, abriu suas asas e voou pra longe. Lindas negras asas, que faziam com que ela se sentisse segura, finalmente.
-Obrigada.
-Pelo quê?
-Por me salvar. Por me tirar do chão e me fazer sentir segura. Por tomar minha vida em tuas mãos. Por me trazer a minha liberdade. Por fazer a minha vida. Obrigada.
-Você não tem que me agradecer. Você me trouxe cores e sabores, eletricidade. Você é o meu anjo. Meu doce anjo.Você me deu asas.

E ela descobriu que não precisava de mais nada. Podia passar a eternidade ali, sem se importar de fato. Sem pensar em mais nada.